“Foi preso num dia solarengo de finais de maio de mil novecentos e setenta e um, o céu derramando generosamente sobre o casario de Lisboa emanações adocicadas de luz, como ele próprio testemunhava, cercado pelo casario alvo dos bairros em volta do Rossio, no momento em que, sentado na acolhedora esplanada da Pastelaria Suíça tomava um café depois do almoço degustado num dos restaurantes da Rua de Santo Antão, paredes meias com o Coliseu.”
Assim começa o trabalho vencedor da edição de 2020 do Prémio Literário António Celestino, promovido todos os anos pela Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso. “Vidas Adiadas” é como se designa; João Manuel Chambel Gonçalves Pedro é como se chama o seu autor, que se apresentou a este Prémio Literário sob o pseudónimo Júlio Gonçalves.
O Prémio, no valor de mil euros, foi entregue ao autor, residente no Montijo, pelo Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso, Avelino Silva, na manhã desta quarta-feira, dia 30 de setembro.
Este ano a cerimónia de entrega do Prémio realizou-se no Salão Nobre dos Paços do Concelho e em moldes distintos dos habituais, restrições impostas pelo combate à pandemia, tendo contado apenas com o Presidente da Autarquia, Avelino Silva, com o Presidente do Júri, Jaime Ferreri, e com o autor vencedor, João Manuel Chambel Gonçalves Pedro.
O júri foi unânime premiar este conto pelo facto de este ter em conta as características que definem o conto, ao nível da introdução, estrutura e desenvolvimento narrativo expresso numa enquadrada conclusão. Para o júri, o autor criou personagens verosímeis - Henrique e Alzira - e enquadrou-os numa relação de espaço/tempo harmonizada com a época onde se destaca o tempo da ditadura, um rigor de julgamento da polícia política e a referência histórica abordada. O autor abordou com severidade os momentos dolorosos que estabelecem os elos de conflito da narrativa. Como curiosidade final, é de referir que o texto menciona a freguesia de Fontarcada, na Póvoa de Lanhoso.