O Largo e Jardim António Lopes, ainda é um dos sítios que mantém na essência uma lógica do conjunto das edificações promovidas desde finais do séc. XIX.
Constituído por um conjunto de edificações a Partir do Palacete das Casas Novas (residência do benemérito António Ferreira Lopes até à data da sua morte em 1928 – hoje propriedade da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso), tem como referência maior o Theatro Club, classificado como Imóvel de Interesse Público por Portaria (464/2012):
O Theatro Club da Póvoa de Lanhoso, mandado construir pelo benemérito local António Ferreira Lopes, foi inaugurado em 1905, sendo considerado um projeto relevante pela sua simplicidade e elegância, inscrevendo -se num conjunto de alterações ocorridas desde o final do século XIX, que modificaram consideravelmente o seu traçado urbano.
A fachada do teatro, totalmente revestida por azulejos monocromáticos, impõe -se pelas suas dimensões e traço de gosto classicista.
A sala de espetáculos, de grande qualidade estética, é profusamente decorada com composições alusivas às artes performativas e retratos de dramaturgos portugueses, destacando -se o pano de boca de cena original, pintado a óleo sobre tela.
A classificação do Theatro Club da Póvoa de Lanhoso reflete os seguintes critérios constantes do artigo 17.º da Lei n.º 107/2001, de 8 de setembro: o valor estético e técnico do bem.
A zona especial de proteção (ZEP) tem em conta o facto de o teatro se implantar em pleno centro urbano da Póvoa de Lanhoso, numa malha consolidada e rodeada de outros imóveis com valor arquitetónico e a sua fixação visa salvaguardar o edifício e a sua envolvente, que muito contribui para a sua valorização.
Além da definição da Zona Especial de Proteção, o Município da Póvoa de Lanhoso procedeu à classificação do Conjunto dos Edifícios que compõem o Largo como Conjunto de Interesse Municipal (3967/2015).
Neste conjunto de edifícios, além do Theatro Club e Lar de S. José já estão sedeados outros serviços municipais da área da Cultura e Educação (Escola Básica António Lopes, Centro Interpretativo Maria da Fonte e respetivo Núcleo Documental, bem como a Casa do Livro / Biblioteca Municipal.
O Jardim dispõe de um conjunto de placas informativas / “leitores de paisagem” que permitem acompanhar muita da evolução do espaço ao longo de mais de um século de história, pelo que foi denominado de “JARDIM COM HISTÓRIA”
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António Ferreira Lopes é a figura mais marcante na História da Póvoa de Lanhoso do séc. XX, destacando-se por importantes contributos em diversas áreas: social, económica, cultural, política, urbanística…
António Emílio Lopes nasceu no lugar de Oliveira da freguesia de Fontarcada, a 14 de abril de 1845, partindo para o Brasil em setembro de 1857, onde permaneceu até 1880 quando regressa a Portugal.
Em 1875 contrai matrimónio com Elvira Câmara, três anos depois de entrar para sócio dos Cafés Câmara.
Será após o seu regresso a Portugal que afirma à sociedade e dá a conhecer aos Povoenses a sua filantropia.
António Lopes condiciona mesmo os principais momentos e as principais dinâmicas na Póvoa de Lanhoso do séc. XX.
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Significativo do alcance da intervenção que António Lopes detém na malha urbana, é a definição do traçado da Avenida da República. Assim denominada a 17 de outubro de 1910 (12 dias após o golpe Republicano), uma das linhas determinantes dos projetos da intervenção e desenvolvimento é esboçada por forma a que o seu alinhamento se efetue na direção do seu portal (cedendo terrenos para permitir a execução do plano esboçado).
São decisivos os contributos para construção do novo edifício do Tribunal e Paços do Concelho, da estrada de acesso ao Castelo de Lanhoso à atual configuração da Praça Eng.º Armando Rodrigues (anteriormente Praça Municipal) com a demolição do antigo edifício dos Paços do Concelho na década de 60 do séc. XX.
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António Lopes vai ser objeto de diversas homenagens, em vida e após a sua morte (22.12.1927).
O primeiro ato acontece com a atribuição do seu nome ao largo fronteiro à sua residência, este Largo.
A 12 de outubro de 1913, iniciada a construção do seu Hospital (inaugurado em 1917), o Município da Póvoa de Lanhoso presta-lhe pública homenagem.
A 24 de outubro de 1920 é inaugurado um monumento no seu Jardim e em 05 de setembro de 1927 é colocado o seu retrato nos Paços do Concelho.
Já falecido, António Lopes é novamente evocado a 05 de setembro de 1935, com a colocação do seu busto na frontaria do Hospital.
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Construída a sua residência, António Lopes vai intervencionar todo o Largo nos primeiros anos do séc. XX (antes denominado da Fonte, depois Serpa Pinto).
O Theatro Club – edificado em 1904 (projeto de Ascensão Machado, orçado em 8 contos de réis) – marca pela riqueza arquitetónica e decorativa Arte Nova, e pela sensibilidade de edificar uma sala vocacionada para manifestações culturais (edifício, composto por sala de espetáculos e residência anexa), onde vai sedear a corporação dos Bombeiros Voluntários desde a sua fundação (de 1905 até 1987).
Depois da recuperação do Theatro Club (2001), foram mais recentemente adquiridas pelo Município algumas das casas contíguas, onde se têm vindo a instalar outros equipamentos e serviços. O Centro Interpretativo Maria da Fonte (Núcleo Documental e Núcleo Interpretativo – 2015) e a Casa do Livro – Biblioteca Municipal (2023).
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Constituindo um expoente difícil de igualar, a filantropia de António Lopes, alarga-se a níveis diversos, embora de forma complementar no sentido e sentimento.
A título exemplar, refira-se a sensibilidade expressa com a Filarmónica Povoense, que passa a integrar a Associação dos Bombeiros Voluntários, objeto de atenções desde a reorganização às suas disposições testamentárias.
Se a sua ação direta marca o primeiro terço do século XX, a sua morte acabará por determinar a nova configuração da Vila em resultado do legado que deixa testamentado para instituições e para um conjunto de obras relevantes.
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Em 1888, A. Lopes adquire os prédios entremeados pela Capela de S. Gonçalo, pertencentes ao Morgado da Barca (António de Azevedo Ataíde Sousa Menezes) dando-lhe o toque de elegância e grandiosidade que marcará a sua intervenção.
O Palacete das Casas Novas, como ainda é designado (Lar de S. José), é onde se instala quando vem à Póvoa de Lanhoso (mantendo residência em Lisboa).
António Lopes faleceu a 22 de dezembro de 1927, quando contava 82 anos de idade. Sepultado em Lisboa, os seus restos mortais são trasladados para a Póvoa de Lanhoso (Capela de S. Gonçalo) a 05 de setembro de 1994, onde jaz junto a D. Elvira Câmara Lopes.
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A magnanimidade de António Lopes, muito motivada por sua esposa, encontra expoente na decisão de edificar um Hospital privilegiando cuidados a pessoas económica e socialmente desfavorecidas.
O Hospital que constrói (1913 a 1917) e mantém até ao final da vida (garantindo a longevidade em testamento), é a sua obra mais completa e marcante pela missão que desempenharia durante décadas.
De autoria do Arq. Moura Coutinho, o Hospital possui características arquitetónicas peculiares que o tornam num dos mais grandiosos e elegantes edifícios civis construídos no concelho da Póvoa de Lanhoso. A Portaria Principal foi classificada como Imóvel de Interesse Público (1983) com destaque na azulejaria de Jorge Colaço.
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É a administração do seu Hospital, e o desenvolvimento de determinadas valências por si preconizadas, que conduzem à criação da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso, cujo trabalho nunca poderá esquecer a filosofia assistencial ideada por António Lopes.
O dia 5 de setembro (dia de nascimento de D. Elvira Câmara Lopes, 1856) é um dia festivo na Póvoa de Lanhoso, dado que António Lopes faz coincidir esse dia com os seus atos mais significativos, destacando-se a fundação dos Bombeiros Voluntários e a inauguração do Hospital, que edifica honrando a sua nunca esquecida esposa (falecida a 11.02.1910).
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É a memória de sua esposa, Elvira Câmara Lopes, que marca muitos dos cuidados sociais de António Ferreira Lopes, particularmente ao nível do ensino, cuja sensibilidade o leva a legar a quantia de “duzentos mil escudos” para a construção das escolas primárias da Vila e a instituir os Prémios Elvira Câmara Lopes, destinados “aos alunos que mais de destacassem no âmbito do aproveitamento e higiene”, a par da distribuição de material escolar pelas crianças mais carenciadas.
A construção da Escola António Lopes, concluída em 1939 (Arq. Rogério de Azevedo), acaba por marcar muitas das gerações de Povoenses. Foi renovada em 2007.
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O Jardim iniciou-se a 5 de setembro de 1917, com a colocação da primeira pedra do monumento de homenagem a António Ferreira Lopes, no fim da inauguração do Hospital, com a presença das forças vivas da terra e de um grande número de forasteiros.
A inauguração do monumento, da autoria do Arq. Moura Coutinho e executado pelo mestre pedreiro António Pinto, viria apenas a ocorrer a 24 de outubro de 1920, numa cerimónia simples, dado o sucessivo adiamento por diversas vicissitudes.
O desenho atual do jardim, com os canteiros de relvado e plantas anuais foi uma realização posterior da empresa Alfredo Moreira da Silva & Filhos, da cidade do Porto.